-
oa Harmonia entre saber e prazer. Ou a conciliação entre Aspásia e Sócrates (Comentário em torno do Dion 58d-59a, de Sinésio de Cirene)
- Brepols
- Publication: Euphrosyne, Volume 31, Issue 1, Jan 2003, p. 253 - 270
Abstract
No Dion, tratado do início do século V a.D., Sinésio de Cirene propõe-se explicitar uma concepção de cultura erudita por oposição à que dela teriam os cristãos de Alexandria e alguns filósofos neoplatónicos do seu tempo, levantando, assim, uma polémica, que se dirige provavelmente contra os teurgistas atenienses, e tendo possivelmente como referentes Plutarco de Atenas e Siriano ou alguns dos seus seguidores em Alexandria. No entanto, o debate visado leva ainda à defesa da retórica e da poesia, primeiro como propedêuticas da filosofia, e depois, em tom palinódico, num paignion que não revela, como prazer e entrega necessária, posterior à revelação filosófica. A apologia do prazer, não apenas sensível mas também inteligível, surge então como jogo retórico, não alheio nem ao divertimento nem ao argumento filosófico. Ao relevar ainda as figuras de Sócrates e Aspásia, pelo Phaedrus e pelo Menexenus, faz delas o seu exemplum e metonímia da filosofia e da retórica, dissimulando nelas também a defesa da sua mestra, Hipátia, pela união da sedução e do prazer à sua erudição e conhecimento filosófico.
AbstractSynesius’ Dion, treatise written in the beginning of the fifth century A.D., states a learned conception of culture opposed to the one shared by Alexandrian christians and some Neoplatonist philosophers alike. In doing so Synesius sets off a polemic aiming most probably at Athenian theurgists and, specifically, at Plutarch of Athens and Syrianos or at some of their followers in Alexandria. Yet such a dispute leads to the defence of rhetoric and poetry, first as introductory subjects to philosophy and afterwards, hinting at a palinodic paignion, as due pleasure and commitment next to philosophical inquiry. Hence, not only does Synesius give rise to an apology of pleasure as sensitive delight but also as intelligible pleasure bringing forth out of rhetorical zest both amusement and reasoning. Eventually, the introduction of characters like Socrates and Aspasia, through Plato’s Phaedrus and Menexenus, implies an exemplum and a pun for philosophy and rhetoric as well, concealing the actual defence of Synesius’ teacher, Hypatia, who symbolises the alliance of charm and pleasure, of learning and philosophical acumen.